Priscylla de Lêu

"Olha as estrelas. Enquanto elas brilharem haverá esperança na vida"  Érico Veríssimo

Textos


Meu lugar em 2015
     
     Hoje é o primeiro dia de ano novo e em 2014 resolvi mergulhar em mim mesma, quer dizer, sempre tive em sintonia com meu interior, comecei a sair desse universo em 2012, quando se iniciou a faculdade, porque de 2001 a 2012 até então sentia vergonha de sair de casa, de ter amigos por estar desempregada e sem rumo.

      Quando passei para uma nova graduação, vi que recomeçava a minha vida da melhor forma, sem repetir os erros do passado. Mas... Quando cheguei à universidade e vi que tinha colegas na idade que já poderiam ser meus filhos e professores mais jovens que eu, confesso: “amarelei”! Precisava me enturmar, atualizar os assuntos e rever conceitos.

     Pra vocês entenderem, tenho que voltar ao ano de 1979, passando por 1981...

     Quando eu tinha 7 ou 8 anos eu fazia catecismo na igreja, era todos os sábados de manhã ( as aulas) e aos domingos, bem cedinho,  a missa . Na missa, as crianças participavam, uma hora lendo, na outra cantando, E aí... Num sábado uma das professoras decidiu que iria fazer um teatrinho para apresentar dali a dois domingos, perguntou quem queria ser voluntário, ninguém se habilitava e eu sempre gostei muito de participar de festividades das quais eu tivesse que representar me ofereci. Sabe... Eu era uma criança tímida, medrosa e que passava despercebida, só aparecia quando eu cismava de perguntar ou fazer bagunça - aí meu nome era citado-  E pra terminar não era lá essas coisas no estudo. 

     A catequista precisava convocar 11 crianças, 9 seriam ovelhas, 1 seria o lobo, e outra seria o pastor, eu seria uma das ovelhas.As ovelhas usariam máscaras  que a professora se encarregou de fazer, então animadíssima com a ideia ensaiei  2 sábados,  com esmero, fui disciplinada  e rígida comigo mesma, pois bem, quando chegou o tão sonhado dia da apresentação cheguei cedo na missa e logo fui atrás do altar para pegar minha máscara, quando cheguei lá fui a última das ovelhas a chegar, resultado: a professora tinha errado as contas e só fez 8 máscaras. Ela ficou super sem graça e me disse: “- Priscylla me desculpe vc não poderá subir no altar sem a máscara, volte para o seu lugar e assista, quando tiver uma nova peça eu te chamo! Não fica triste não.”
 
     Não ficar triste? Fiquei arrasada! Me senti  idiota, traída, envergonhada.  Nunca mais participei de coisa alguma, seja na igreja ou na escola que tivesse que usar máscaras.

     Em 1981 eu tinha uma amiga muito querida que faleceu quando tínhamos 10 anos estudávamos juntas desde o jardim, em 1976, e nossas mães eram muito amigas, as vezes ela e as irmãs passavam as tardes lá em casa, essa amiga era queridinha dos professores, chegou a passar até final de semana na casa de uma professora,pouco antes de morrer, (de esclerose múltipla) - na época  uma doença que estava no começo das pesquisas-  Eu perguntei a ela: “- como você consegue que as pessoas gostem tanto de você?” E ela respondeu “- eu faço as pessoas rirem! Eu procuro ajudar sempre que posso, e obedeço!”

     Assim, depois da morte dela, com o passar dos anos, adotei esse ensinamento, logo virei também uma pessoa que ficou popular na escola, não havia uma festa que eu não fosse convidada, e a bagunça? Triplicou! Com a condição de não maltratar ninguém, não responder os professores, nem ser posta para fora de aula, virei à queridinha dos professores também, que não me penalizavam porque sabiam que se chegasse em casa com qualquer reclamação que fosse, minha mãe surtava! Os assuntos disciplinares eram resolvidos na escola mesmo. Fui representante de turma e cheguei a ir a festas nas casas dos professores e eles na minha casa. Enfim, para resumir, construí um personagem.

     Em 2001 tive uma perda e voltei a condição introspectiva, medrosa, insegura, me formei, fiquei 8 anos desempregada e fiquei muda. E descobri que essa sou eu! Não me liguei mais na condição de ser aceita ou não. Mas... Voltei à graduação e junto disso precisava me enturmar, ser aceita, afinal eu recomeçava uma vida e se eu queria uma nova chance tinha que acima de tudo perder o medo das pessoas e da convivência com elas. Me permiti conhecer pessoas, passei acessar facebook, colocar minhas fotos, me expor, (coisa q no Orkut não fazia) e a trocar mensagens no celular, para vcs terem uma ideia, no meu celular só tinha 11 contatos hj tenho 50... Mas tem pouco uso e não é um aparelho top. É só para falar. Resultado: Voltei a esse personagem, só que um pouquinho melhorado, já tinha 40 anos e  alguma experiência de vida. E sabendo dizer NÃO e SIM na hora certa.

     Mas em 2014, a convivência e estar sempre disponível e popular teve seu preço. Me tornei solícita, prestativa e encaro a vida, acho que sempre encarei assim, que cada um tem seu lugar, ajudo meus colegas sem me preocupar se a vaga é minha ou não, apenas quero vê-los bem! Como bons profissionais. - nunca fui competitiva e nem gosto de me relacionar com gente assim-  Mas me decepcionei... me mandaram procurar o meu lugar, como a catequista fez... Sim! Fiquei machucada! E reagi me recusando a voltar para meu lugar porque me dei conta que não sei qual é. Mas por que me machuquei tanto? Afinal de contas, não se agrada a todos! Me senti ofendida porque eu gostava da pessoa, e entendi que só nos magoa quem amamos, se fosse alguém que eu não desse a mínima não me machucaria. Isso é bom? Sim, dentro desses anos todos trancada me vi envolta em sentimentos que há anos não sentia; amor, mágoa, raiva, afeto, perdão, sentimentos que trancafiada em meu universo, não sentia mais, por ficar sem me relacionar com pessoas por um longo período, e já até acreditava na sua inexistência, estou triste ainda, mas feliz por ser como todo mundo, eu não morri em 2001, estou viva! E é preciso celebrar esse fato! E ainda estou pensando. Qual seria meu lugar? Eu não sei meu lugar. Estou procurando.  

     Atualmente, sempre que posso fico em um lugar isolado, vou ao cinema, a praia, sempre sozinha.  Essa questão tb  quero responder em 2015.

     Não espero, honestamente falando, que o ano me traga amor, apenas quero apenas a paz de espírito que nunca tive, minha alma é inquieta! E sei que posso encontrar paz e quietude na alma sem precisar me isolar, e confesso... Quero entender o mecanismo que me move. A pessoa que nos magoa tem um jeito de ser, nasceu assim, ou se construiu assim, Sei lá! Tenho que aprender a respeitar isso!  Aliás: Por que eu também magoei?Será que magoei? Se magoei, é sinal que tb gostava de mim, de certa forma! Que instinto é esse que me move de autopreservação? Por que a necessidade de ser aceita?  Valeu a pena ter recusado a me colocar no meu lugar? Espera! Eu disse acima que não sabia! Será que realmente não sei meu lugar? Será que eu sou assim mesmo? Ou de novo eu sou um personagem em busca de aceitação? Uma amiga me escreveu um provérbio budista que dizia mais ou menos algo assim: “deixa a pessoa que vc ama ser livre, se voltar é porque você a possuiu se não voltar é porque vc nunca conquistou.” E é essa questão chave: Será que sendo essa mistura real com o personagem eu conquisto de verdade as pessoas? Quem de verdade sou? Sou duas? Ou misturo ambas para ficar na zona de conforto? De que eu tenho medo? Só o tempo dirá!  A única certeza que tenho é que de forma alguma quero usar máscara!

     Que em 2015 a minha cabeça se organize... O que não pode acontecer e eu sentar e assistir a tudo sem saber realmente o meu lugar.
 
 
 
Priscylla de Lêu
Enviado por Priscylla de Lêu em 01/01/2015
Alterado em 01/01/2015
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