Priscylla de Lêu

"Olha as estrelas. Enquanto elas brilharem haverá esperança na vida"  Érico Veríssimo

Textos


Tudo começa quando você me viu, fui vista de um ângulo que nem eu mesma me via, você captou todo meu universo e a sua chegada o enriqueceu ainda mais, e misteriosamente eu também vi você e enxerguei em você coisas que você também não via, o universo com sua presença era um lugar confortável de se viver, você me falava de suas ideias e eu ouvia sua opinião, te ensinei a gostar de Cazuza e você me ensinou a gostar de Janis Joplin, e apesar de nossos mundos serem diferentes, nunca nos separamos. Tivemos tudo àquilo que nos foi permitido, pois nossos mundos não nos permitiam.

Quando a doença apareceu, eu te liguei para saber da cirurgia, conversamos sobre seus medos e eu te fiz um único pedido: - não morre! Eu não sei o que será de mim. Você sorriu e disse: - pode deixar, foi apenas um susto! Mas 1 ano depois a doença te ceifou.

Quando isso aconteceu perdi meu “porto seguro”. Agora era eu, comigo mesma, e um universo inteiro para dar conta. Desejei piamente que fosse tudo uma brincadeira de mau gosto. Eu era naquele momento uma vida a ser reinventada. Tudo que a sociedade diz sobre a morte, virou balela, coisas do tipo: “amor morto, amor posto” se tratava, pelo menos pra mim, de uma ofensa pessoal. Sua morte parecia algo inacreditável e eu me senti minúscula diante desse fato, impotente diante daquela sepultura, afinal de contas estava ali o melhor de mim. Nunca mais seu sorriso, sua voz, seu abraço, suas mãos... enfim, o “nunca mais” se materializava na minha frente.

Sabe, penso que o amor verdadeiro foi o que nós tivemos, eu jamais fui um personagem para você, nem me sentia ameaçada sendo quem sou e isso era recíproco, mas sua morte me ensinou que nada, por melhor que seja, é eterno, e naquela hora eu tinha na minha frente um mundo inteiro a ser redescoberto, mas para isso eu precisava com urgência me reinventar.

As coisas ao meu redor começaram a ser transformadas, no lugar do som do seu sorriso, escuto o barulho do mar, no lugar do seu abraço, aprecio o pôr do sol, no lugar de suas mãos, sinto a areia da praia a passar entre meus dedos. Acredite! Vejo beleza em tudo! E mato as saudades. Mas nada, absolutamente nada, substitui você.

Na minha reinvenção, prometi a mim mesma viver a melhor vida de todas! Um novo amor? Sim! Mas não com alguém que procure a sua metade, pois aprendi com sua ausência a ser uma pessoa inteira e quero alguém que esteja em iguais condições. E que nossos defeitos nos agradem.

Quando eu morrer vamos nos encontrar, e te contarei tudo de bom e de ruim que eu vivi e mostrar que eu entendi ver em cada “não” e “Sim” um sentido, e que você o tempo todo estava comigo me ensinando essa lição.

Na boa... Tenho esperanças de encontrar alguém melhor do que você, mas nunca igual, porque pessoas especiais são únicas, mas nesse alguém melhor, estou incluindo o fato de poder construir algo: Sem amarras, sem neuras, sem medo, simplesmente sermos felizes. E o mundo que se dane! Teremos o nosso!

Vou ficando por aqui, mas aviso, que por enquanto, vou curtindo a beleza do amor que você me faz sentir quando sinto sua falta. Traduzindo: meu amor está na saudade e na beleza de todo universo ao meu redor.
Priscylla de Lêu
Enviado por Priscylla de Lêu em 10/08/2014
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras