Priscylla de Lêu

"Olha as estrelas. Enquanto elas brilharem haverá esperança na vida"  Érico Veríssimo

Textos

Eu Acredito...

Um dia quando era bem menina, eu acreditei que quando chegasse aos 40 anos a minha vida seria perfeita. Mas o que seria perfeição? Ser mãe, ter filhos, bichos de estimação, uma casa, plantas. Não pensava na rotina ou sequer como seria a personalidade de cada personagem envolvido. Ah... Eu tinha fé e acreditava!

À medida que o tempo foi passando, veio à adolescência e com ela as paixonites, que trouxeram as primeiras dores de amor, ali eu percebi que cada pessoa é de um jeito, cada um tem seu gosto, desejos, sonhos, e que o sonho a dois é muito complicado. Ah... Deixei de acreditar, mas não perdi a minha fé!

O tempo andou mais um pouquinho, me tornei adulta, veio a escolha profissional, meus sonhos não eram mais a dois e minhas crenças de vida perfeita mudaram! Tudo era focado na profissão. Parei de pensar em mim, só queria um lugar ao sol, mas como conseguir isso se não tinha tempo para ver o sol? Ah... Perdi a fé!

Apesar da minha falta de observância por falta de tempo, o tempo, cruel e implacável passou! Como diria o poeta: “o tempo não para!” Cheguei aos quarenta anos! Sem vida profissional estabelecida, sem amor, sem dinheiro, sem sonhos e com dúvidas sobre que ou em quem acreditar. A inocência deu lugar à nova crença e a nova crença se resumia a minha ambição. Seria útil voltar à inocência? Perguntei-me. Sim! Seria! Como? Nesse momento me remeti ao pensamento de minha infância quando apareceu no canteiro da minha casa uma orquídea no meio das outras flores, enquanto ela viveu ela foi minha amiga, todos os dias à tarde, depois dos deveres eu sentava perto dela, criava uma historia para ela e a relacionava com as outras flores, um dia era ela mocinha, no outra vilã e tinha dias q eu apenas a observava, quem havia criado tanta beleza? Eu questionava. Minha vó quando me via ao redor da orquídea não deixava ninguém me incomodar, ela dizia: “- Deixe! O q ela está vendo é bonito demais!” E fiquei muito triste quando a orquídea morreu.

Assim, me lembrando disso, consigo comparar pessoas as orquídeas, eu acredito que as pessoas também são como orquídeas, só que cada ser humano mostra a sua beleza da forma que melhor lhe apraz e a orquídea é de uma perfeição infinita que percebemos no primeiro olhar, já entre pessoas é necessário conviver para perceber a beleza de cada uma.
Porém, o fim da vida de uma orquídea a ciência sabe, e nós humanos não sabemos nosso tempo, quando e como terá fim o nosso ciclo, temos a certeza apenas que teremos o mesmo destino: A morte.

Pensando por esse prisma, passei a acreditar, que tudo na vida, cada situação, cada problema, cada pessoa, seja ela de que credo for, possuem vários ângulos de visão diante da vida, seja vilão ou mocinho, cabe a cada um decidir de que forma viverá melhor seu ciclo e escolher ser belo ou não, mas isso também depende do olhar que cada um tem de si mesmo. Será que sou uma orquídea? Que tipo de beleza possuo? Como me vejo? Se eu desejo um “eu e você” então se conclui que para ter esse tipo de relacionamento eu tenho que saber primeiro quem sou eu para achar você. Mas quem seria eu? Como mostro minha beleza? Como chamo sua atenção? A única coisa que tenho ciência e de que eu tenho um rosto, braços, pernas, mãos, eu me vejo, me toco, tenho voz, pensamentos e desejos. Mas o que eu sei de você? Não possuo um rosto para povoar meus pensamentos, sei que você tem braços, pernas, mãos, voz, mas tudo se escurece porque não tenho um pensamento e não sei o que você deseja. Teria eu, para achar você, ver meu reflexo em você? Ou teria você, para me encontrar, ver seu reflexo em mim? Penso que nenhuma das duas questões, para achar você, preciso achar eu, para ver você por inteiro com todos os seus defeitos e aceitá-los, e ver somente você. E não ver meu reflexo e eu não almejo seu reflexo, quero ver seu rosto, quero uma nova orquídea, quero que venha com histórias da orquídea que era a mocinha das minhas histórias e ver você e toda sua beleza refletida no mundo. E que nossa união nos dê forças para combatermos as pragas no nosso jardim.
 
Eu acredito que todas as coisas são boas, até aquelas que parecem ruins aos meus olhos adultos, mas se eu olhar pelo ângulo de criança, tudo depende da história que eu criar para mim mesma.

Mas agora aos quarenta anos, tenho convicção que sempre devo ter um tempinho para ver o sol e voltar a enxergar o comportamento das orquídeas é muito bom sentar no jardim e observar suas histórias e ver que a minha beleza está na paz de espírito que a minha alma nua, diante desse oceano infinito me traz, enfim, voltei a acreditar e a ter fé!
Priscylla de Lêu
Enviado por Priscylla de Lêu em 09/08/2014
Alterado em 13/08/2014
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